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Três mil fazem uso terapêutico no Brasil

(brpress) - Mesmo ilegal no Brasil e defendida na Marcha da Maconha, que acontece neste sábado (21/05), em SP, terapia confronta médicos e pequisa a ser publicada no British Journal of Psychiatry. Por Danielle Marinho.

(brpress) – Depois de ser realizada em três capitais brasileiras, São Paulo é a próxima cidade a receber a Marcha da Maconha. A manifestação acontece na Avenida Paulista, em frente ao Masp, neste sábado (21/05), às 14h, e deve reunir famosos e anônimos que propõem mudanças na Lei de Drogas e a regulamentação das atividades relacionadas ao cultivo e ao comércio da cannabis sativa (nome científico da maconha), para fins medicinais e uso recreativo.

Alguns estados dos Estados Unidos, Canadá, Holanda e Áustria já fazem legalmente o uso da maconha para auxiliar no tratamento de doenças como Aids, câncer e fibrose cística. No Brasil, a lei proíbe o porte, o uso, inclusive medicinal, e pesquisas com a planta. Mesmo assim, “no país, estima-se que existam três mil pessoas fazendo uso da droga com a finalidade de tratamento”, ressalta João Menezes, neurocientista com Ph.D. no Massachusetts General Hospital e na Harvard Medical School (EUA) e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

RegulamentaçãoMenezes defende que a regulamentação da cannabis deva ser imediata, porque, segundo ele, cerca de 100 mil pacientes teriam acesso aos benefícios da erva para auxiliar em tratamentos, principalmente, de doenças crônicas, como a fibromialgia, que causa dor constante.”A maconha possui de 70 a 80 moléculas chamadas canabinóides, a grande maioria com potencial para uso terapêutico. O THC, um dos princípios ativos da maconha, é o principal agente das ações psíquicas. O outro princípio é o CBD, que possui 20 potenciais de uso, entre eles analgésico, ansiolítico, antipsicótico, anti-inflamatório, antiespasmódico e vasorelaxante”, explica o especialista.

Em países que permitem o uso da cannabis sativa para tratamentos, o THC, por exemplo, vem sendo testado no auxílio aos pacientes com câncer e doenças que levem a perda de peso, como a Aids. “Como esse princípio ativo causa muita fome, ele pode ser utilizado em pacientes que façam uso de medicamentos que inibem o apetite, como a quimioterapia no tratamento do câncer”, explica João Menezes.

Dependência

Na outra ponta da discussão, está a questão da liberação para o uso recreativo da droga. Embora o especialista ressalte a eficácia no tratamento medicinal, admite que o consumo de maconha pode levar à dependência e os efeitos podem ser mais significativos nos adolescentes. “Em adolescentes, o uso pesado da droga pode aumentar de duas a três vezes o risco de desenvolver esquizofrenia, se já houver predisposição para a doença”, alerta o médico.

“A droga causa uma alteração sensorial muito prazerosa, por isso  mesmo pode permitir maior facilidade de um paciente aderir ao tratamento. Mas ser viciante não é uma razão para não ser usada na medicina, pois existem outras drogas que também causam vício”, diz. Segundo o neurocientista, a dependência à maconha, no entanto, é de mais fácil controle e tratamento.

Para a neuropsicóloga Maria Alice Fonte, doutora em psicologia e pesquisadora do Laboratório Interdisciplinar de Neurociências Clínicas (Linc), do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a maconha causa dependência e até síndrome de abstinência quando o usuário é crônico, ou seja, já utiliza a droga há muito tempo. O tratamento ambulatorial não é o mais indicado nesse tipo de caso, pois o dependente tem menos controle do vício.

Efeitos do consumo

Em tese de doutorado apresentada na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e que será publicada em julho no British Journal of Psychiatry, Maria Alice concluiu que o uso crônico leve de maconha – que significa o consumo de dois cigarros diários por cerca de dez anos –, afeta a área do cérebro responsável pela memória curta, dificultando execução de atividades complexas que requerem planejamento e gerenciamento das informações.

A pesquisa feita com 173 usuários de maconha, com idades entre 18 e 55 anos, revela que, quanto mais cedo se começa a consumir a droga, maiores os danos cerebrais. A pesquisadora também comprovou que esses danos são maiores em adolescentes. “Entre os usuários, aqueles que começaram precocemente, adolescentes com o cérebro em formação, tiveram mais danos permanentes, como dificuldades de armazenar informações do dia a dia”.

Maria Alice alerta ainda que, quando utilizada por grávidas, as consequências para o bebê podem ser baixo peso, comprometimento da capacidade respiratória e do desenvolvimento do cérebro.

(Danielle Marinho/Especial para brpress)

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