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Clube da Esquina com Juscelino Kubitschek. Foto: Juvenal PereiraClube da Esquina com Juscelino Kubitschek. Foto: Juvenal Pereira

Nada Será Como Antes documenta Clube da Esquina

Filme mergulha na musicalidade do grupo para entender como influências diversas, história e poesia refletem na música atemporal que criou

(brpress) – Quando o guitarrista Victor Biglione abriu, com uma versão sublime de Sonhos Não Envelhecem, o show Homenagem à Cássia Eller In Blues, em 1º. de outubro de 2023, o Bourbon Street, em São Paulo, quase derreteu. O lirismo e a sofisticação do clássico do Clube da Esquina encheu a acústica da casa. O público tagarela silenciou e Biglione nos transportou para uma noite de sarau na casa dos irmãos Márcio e Lô Borges, na pacata Belo Horizonte dos anos 70.

Diante de tamanho impacto, não poderia ser outro o nome do livro Os Sonhos Não Envelhecem, de Márcio Borges, que conta a história do Clube da Esquina. Mas o documentário sobre o icônico álbum Clube da Esquina (1972), o primeiro do grupo, que tem lançamento em 20 capitais brasileiras em 28/03 e em 29/03, na Sessão Vitrine Petrobras, projeto de apoio ao audiovisual brasileiro, escolheu outra música como título: Nada Será Como Antes – A Música do Clube da Esquina (Brasil, 2023).

Música e sociedade

Foi por pouco. “Construir uma narrativa audiovisual para a música do Clube da Esquina é tocar em uma matéria de sonho”, admite a diretora Ana Rieper. Ela sabe o que diz e faz quando o assunto é direção e roteiro de filmes que abordam a relação entre música e sociedade. Seu trabalho mais conhecido é o documentário Vou Rifar Meu Coração (2012, disponível na Amazon Prime Video), sobre o imaginário romântico no Brasil a partir do universo da música brega.

Nada Será Como Antes mergulha na musicalidade de um bando de caras virtuoses para entender como referências musicais diversas, influências de paisagens – as montanhas de Minas –, história e poesia refletiram em cada um deles e na música atemporal que criaram.

Poético, o filme recupera velhas e apresenta novas histórias sobre um dos períodos mais conhecidos e celebrados da história da música brasileira, tratando de um disco que povoa o imaginário e os sentimentos de gerações. Os depoimentos e imagens, impregnados pelas canções, traduzem esse clássico da música mundial.

Sonoridade única

O álbum Clube da Esquina é considerado por alguns críticos musicais um dos melhores de todos os tempos. Milton Nascimento, Lô Borges, então com 16 anos, e músicos do quilate de Nivaldo Ornelas, Toninho Horta, Beto Guedes, Robertinho Silva, Flavio Venturini, Wagner Tiso e Márcio Borges criaram uma sonoridade única, que mistura rock progressivo, jazz, afro e o barroco mineiro ajudou a revolucionar a MPB.

Mesclando imagens em cores e P&B, de arquivo e atuais, o documentário traz uma sensação saudosista, especialmente após a turnê de despedida de Milton, em 2022. Falando em Milton, ficamos esperando que o filme traga depoimentos mais longos do mais famoso integrante do Clube da Esquina. Mas a fala de Bituca é marcante e graciosa.

Sensibilidade

É interessante uma mulher narrando a história de um coletivo exclusivamente masculino. Em entrevista exclusiva para a brpress, a diretora Ana Rieper refuta que seja um “olhar feminino”, algo que não faz muito sentido para ela. “Eu entendo, entretanto, que a experiência que acumulamos ao longo da vida, como mulheres, nos traz sensibilidades e pontos de vista próprios sim do ser mulher”, diz Ana.

“Nesse aspecto, identifico algumas características desse filme com a minha condição feminina, principalmente no que diz respeito a uma valorização da subjetividade, do que não é dito, de trazer uma experiência mais ligada ao sentimento e à poesia”, explica a diretora.

De fato, o filme tem uma narrativa que se constrói muito pelas imagens, buscando uma associação com as músicas “Esse afastamento de uma perspectiva mais objetiva, mais ligada à informação, ao fato, é uma marca do Nada Será Como Antes, que vejo relacionada a um olhar de mulher”, completa Ana.

Quanto ao Clube da Esquina ser um Clube do Bolinha, a documentarista ressalta que “o mundo ainda é muito masculino e nós mulheres vivemos em constante negociação e muitas vezes luta por espaços. É assim no mundo da música, no audiovisual, essa é a nossa batalha cotidiana.”

Mais mulheres

Coincidência ou não, depois de reunir os “meninos” remanescentes do Clube, a diretora atualmente finaliza um longa musical sobre a família patriarcal brasileira. Ana parece intercalar hegemonias masculinas e femininas em sua obra, pois antes de Nada Será Como Antes, ela roteirizou e dirigiu o documentário Clementina (2018), sobre Clementina de Jesus, a uma das mais importantes e influentes cantoras da história do samba, sendo comumente denominada “rainha do Partido-Alto”.

Também chama a atenção o fato de a diretora ter ouvido apenas uma testemunha ocular feminina do Clube da Esquina no filme: Duca Leal. Ana Rieper aponta Elis Regina e Alaíde Costa como duas cantoras afinadas com o Clube da Esquina – mas não parte da rapaziada como Duca.

Ex-mulher de Márcio Borges, amiga da turma e groupie compulsória pelo casamento com um de seus integrantes, Duca Leal conta a história do ponto de vista feminino no livro Histórias de Outras Esquinas. Ela também é a musa das músicas Vento de Maio e Um Girassol da Cor de Seu Cabelo, que virou um hit indie com várias regravações – inclusive por Lô Borges.

Duca Leal (centro): garota do Clube da Esquina. Foto: Juvenal Pereira
Duca Leal (centro): garota do Clube da Esquina. Foto: Juvenal Pereira
Driblando a censura

Vale lembrar que tudo aconteceu em plena ditadura militar, em pleno rescaldo do movimento hippie no Brasil. Esse espírito contestador e rebelde é uma das marcas do álbum Clube da Esquina. A simplicidade da capa, com dois garotos, um negro e um branco, na beira de uma estrada, esconde o virtuosismo das 21 faixas do disco, e letras que driblaram a censura.

“Este poderia ser um filme sobre política, sobre amizade, sobre juventude, sobre a vida de músico, sobre poesia, sobre o Brasil”, diz a diretora. “São temas transversais que estão num filme sobre música”.

TRAILER

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