
George Best inspira balé
(Belfast, brpress) - Craque cachaceiro e mulherengo mais adorado da Irlanda do Norte – e talvez de todo o Reino Unido – empresta chuteiras às sapatilhas. Por Juliana Resende.
(Belfast, brpress) – Ele chuta, rodopia, faz um balé esdrúxulo e bate de cabeça. A torcida enlouquece, o narrador do jogo perde as palavras. É George Best (1946-2005), o craque cachaceiro, mulherengo e (reza a lenda) racista (apesar da admiração por Pelé) mais adorado da Irlanda do Norte – e talvez de todo o Reino Unido. Tanto que um balé foi criado em sua homenagem: Best.
A coreografia é do escocês aficionado por futebol Andy Howitt; a cia. é a Maiden Voyage, sediada na capital norte-irlandesa. Em cena, seis bailarinos fazem e acontecem em movimentos atléticos e ininterruptos ao som de The Champs, com a apropriada e atemporal Tequila, do rock visceral dos Undertones, com Teenage Kicks, das costeletas do Small Faces – banda da qual Best, com seu visual setentista, era fã, e que trazia o ex-jogador de futebol Rod Stewart – e do xará George Michael, passando por Bob Dylan.
A voz de ‘Georgie’, como o demônio de chuteiras é carinhosamente chamado pelos taxistas de Belfast, também aparece em contraponto à música, num remix às vezes caótico e angustiante – numa analogia à vida do ídolo. É como se Deborah Colker resolvesse homenagear Garrincha com uma coreografia. A ideia partiu da diretora artística da Maiden Voyage, Nicola Curry, e prontamente ganhou apoio da George Best Foundation.
Chute a gol
O resultado é um tanto irregular. Mas o mote de usar o “balé” do futebol no palco é uma boa sacada de Howitt, contemporâneo do gênio pós-punk da dança britânica Michael Clark (quem o coreógrafo de Best acompanhou na superação do vício em heroína, frequentando um estúdio em comum, em Glasgow, recentemente). Mas o gênio, neste caso, é mesmo Best: “Ele combinou graça, ritmo e equilíbrio como pede a dança”, derrete-se Howitt.
Best, por enquanto, só será apresentado na Irlanda do Norte. Mas em ano de Copa e do centenário do estádio Old Trafford – que George Best transformou no “Teatro dos Sonhos”, nos anos 70, quando redefiniu o futebol pelo Manchester United, com um glamour e um salário jamais vistos em campo –, o céu pode ser o limite para esta trupe que não joga na retranca.
(Juliana Resende/brpress)