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Jovens se refrescam na Cidade do Rock. Ellen Soares/image.net/DivulgaçãoJovens se refrescam na Cidade do Rock. Ellen Soares/image.net/Divulgação

Roqueiro e ‘careta’?

(Rio de Janeiro, brpress) - Sexo, drogas e rock n'roll? Não para campanha Eu Vou Sem Drogas, do Rock in Rio. Mas, na prática, isso funciona? Por Danielli Marinho.

(Rio de Janeiro, brpress) – Sexo, drogas e rock and roll. No que depender da campanha Eu Vou Sem Drogas, que a organização do Rock in Rio 4 está promovendo, essa santa trindade do mundo da música pop e do comportamento jovem, desde o advento da contracultura e da revolução sexual, no final dos anos 60, deve ser quebrada. Mas, na prática, em pleno festival, há condições para que uma campanha dessas vingue?

A ideia do Rock in Rio é usar a força da marca para tratar de um assunto de extrema importância e conscientizar a população jovem sobre os perigos das drogas, especialmente pelo avanço do crack e oxi no Brasil. “Queremos encorajar aquele jovem que ainda não decidiu se vai experimentar a não fazê-lo”, explica Roberta Medina, em entrevista à brpress. “Não temos a pretensão de achar que a campanha vai funcionar com aquele que já é usuário de drogas”, completa.

Para falar desse assunto de saúde pública e difícil solução, o Rock in Rio — em parceria com o Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) —, produziu filmes, anúncios para impressos, banners para a web e spots para rádios, com diversos artistas e músicos, veiculados em toda mídia nacional até o final do festival.

Outra conversa

O fato é que, em festivais, o consumo de drogas costuma ser grande. Chame como quiser, estar “chapado”, “muito louco” ou “calibrado” para curtir os shows faz parte da festa. E mesmo que muitos jovens não se droguem para ir a festivais, a campanha do Rock in Rio pode soar desafinada – ainda mais num momento em que se discute a descriminalização do uso de drogas, com “caretas” do porte do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso encabeçando o documentário sobre o tema, Quebrando o Tabu (2011, Brasil).

A frase de FHC – “é simples falar e muito difícil realizar” – sobre os desafios de descriminalizar as drogas, particularmente a maconha, no Brasil, poderia servir também para questionar a organização do festival sobre a eficácia dessa campanha, que custou R$ 10 milhões. Afinal, por melhor intencionada que seja a iniciativa, dados mostram que a realidade é bem diferente.

Consumo

Em 2010, a Senad realizou o I Levantamento Nacional sobre Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras com uma amostra de 100 Instituições de Ensino Superior (IES), públicas e privadas, e quase 18 mil universitários. O primeiro ponto surpreendente da pesquisa foi a constatação de que o consumo de drogas entre os universitários é mais frequente que na população em geral, e estudantes de ensino fundamental e médio.

Dentre os universitários pesquisados, 49% já experimentaram alguma droga ilícita pelo menos uma vez na vida. Cerca de 40% dos universitários usaram duas ou mais drogas nos últimos 12 meses, e ainda 43% relataram já ter feito uso múltiplo e simultâneo de drogas na vida. Desses 43%, 47,8% alegaram como motivação do uso “simplesmente porque gostavam ou porque lhes possibilitava esquecer os problemas da vida”.

Mas, diferentemente da geração roqueira dos anos 80 ou 90, que tinha nas drogas um símbolo de rebeldia, a chamada geração Y (também chamada geração do milênio ou geração da internet) parece não ter que necessariamente experimentar e usar drogas para se autoafirmar como revolucionária. Isso significa não se drogar? Ou não consumir substâncias ilícitas, apenas?

É bom lembrar que álcool e cigarro também estão na lista de substâncias que fazem mal à saúde e são proibidas para menores de 18 anos – apesar de legalizadas. Dos jovens pesquisados pela Senad, 36% beberam mais de cinco unidades alcoólicas em um período de duas horas, nos últimos 12 meses, e 25% nos últimos 30 dias. São considerados elevados níveis de consumo.

Maconha

Circulando pelo Rock in Rio, não é difícil ver um “baseado” (cigarro de maconha) passando de mão em mão. O cheiro então, é “mato” na pista e pontos mais afastados dos palcos. Mesmo assim, o criador do festival, Roberto Medina, defende a validade da campanha: “O público jovem não gosta que ditem o certo e o errado, quer ter liberdade para tomar suas próprias decisões. Eu Vou Sem Drogas reflete exatamente esta questão e mostra que é possível dizer, sem qualquer ajuda, que você irá a qualquer lugar que seja sem drogas porque esta é a sua decisão”.

Ou mesmo porque é ilegal e pode, convenhamos, dar cadeia. Ainda mais diante do forte policiamento no festival. Em todas as edições anteriores do Rock in Rio, policiais fardados e à paisana circularam livremente pela Cidade do Rock, repreendendo e fazendo apreensões em alguns flagrantes. No último sábado (24/09), foi feita a primeira ocorrência oficial relacionada a drogas no festival. Um usuário de cocaína foi preso em flagrante dentro da Cidade do Rock e levado ao Jecrim (Juizado Especial Criminal). O titular do juizado, Joaquim de Almeida Neto, explicou que o infrator não poderia ser identificado.

Críticas

Parece que a campanha Eu Vou Sem Drogas não agradou muito o blog Tudo em Geral, que critica os porta-vozes da canção e o estilo “Criança Esperança” dos filmes, “além da música ser chata”.

O colunista Claudio Humberto, do Jornal do Brasil, comentou sobre drogas e o festival, na última terça (27/09), indo direto ao ponto: “Se existissem e fossem instalados detectores de drogas nos portões de entrada, haveria Rock in Rio?”. Deixamos a pergunta pra você, leitor(a), esperando ansiosamente por sua resposta.

(Danielli Marinho/Especial para brpress; colaborou Juliana Resende/brpress)

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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