(Locarno, brpress) – Ela é filha de dois dos maiores atores do cinema, a francesa Catherine Deneuve e o italiano Marcello Mastroianni (1924-1996). Homenageada no Festival de Cinema de Locarno, com um prêmio de excelência por sua carreira, a atriz Chiara Mastroianni, 38 anos, conta que, quando criança, ia algumas vezes ver seu pai no trabalho e adorava a maneira como ele se transformava. Mas isso não a levou automaticamente ao cinema.

Sua mãe desestimulava que ela seguisse carreira de atriz quando não se colocava francamente contra essa hipótese. Porém, foi Catherine Deneuve, com sua formação de cinéfila, quem a iniciou no mundo do cinema, mostrando-lhe todos os grandes filmes.

Chiara conta que antes de filmar sempre sofria de contração e dor no estômago, e que foi somente trabalhando com o cineasta Xavier Beauvois que conseguiu superar essa ansiedade. Entre seus filmes de destaque estão A Carta, do português Manoel de Oliveira.

Quando Catherine e Marcello se separaram, Chiara continuou vivendo em Paris com a mãe, já havia aprendido a falar o italiano. É no idioma paterno que Chiara concedeu a seguinte entrevista.

Sua infância foi muito atribulada por conta de seus pais serem dois grandes atores e algo como o casal ‘Brangelina’ da época?

Chiara Mastroianni – Muita gente pensa que, com esses pais, eu deveria ter vivido uma infância e juventude diferentes, numa família de boêmios, mas é pura imaginação. Meus pais eram como todos os pais, acompanhavam meus estudos na escola, me fixavam horário para dormir e, portanto, tive uma vida muito igual à das outras crianças.

Sua mãe não queria que você fosse atriz. E seu pai?

CM – Quando decidi também ser atriz, meu pai ainda vivo, ficou muito contente – como o dono de um comércio que vê sua atividade continuada dentro da família. Mas quem me incentivou para ser atriz foi o ator Melvil Poupaud [que esteve na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo], na época meu colega de escola, pois me empurrou literalmente para o cinema ao ver que eu não sabia o que fazer ao terminar o colégio.

Quais são os filmes que a influenciaram nesta decisão?

CM – O primeiro filme que vi no cinema foi A Dança dos Vampiros, de Roman Polanski. Eu era pequena e minha mãe precisou convencer a bilheteira do cinema, que não queria deixar eu entrar. Fiquei maravilhada com a situação, achando que, com minha mãe, íamos fazer alguma coisa proibida, uma transgressão.

Algo como quando trabalharam juntas em filmes? Fale sobre eles.

CM – Meu primeiro filme como atriz foi

Us Two (1980), de Claude Lelouch, ao lado de minha mãe, que também nele trabalhava, mas não contracenava com ela. Isso veio com o filme de Arnaud Desplechin, Um Conto de Natal (A Christmas Tale, 2008), no qual não sou sua filha, mas sua nora – por sinal personagem detestado por ela. Mas antes de Us Two, minha mãe, ao ver que eu realmente ia concretizar o desejo de ser atriz, foi bem prática: como eu acabara de tirar minha carta de motorista, convenceu André Téchiné para que eu dirigisse um carro num filme dele em que ela atuava.

Sua carreira está mais voltada para a França. Isso é proposital?

CM – Não. Nunca foi escolhida por diretores italianos, talvez por pensarem que eu não fale italiano ou que seja muito francesa.

Mas isso não é atribuir muito poder aos diretores?

CM – Os diretores são os caras que mandam e são eles que fazem tudo. Um mesmo roteiro entregue a cineastas diferentes dará filmes totalmente diferentes. Enfim, acho que eles têm todo o poder quando o assunto é cinema.