Os males de Zelaya
(Londres, brpress) - Apesar do repúdio unânime da comunidade internacional ao golpe, das pressões sociais e de ter usado a embaixada brasileira como base, não lhe resta nada além de aceitar o fracasso. Por Isaac Bigio.
(Londres, brpress) – José Manuel “Mel” Zelaya deixou seu refúgio na embaixada brasileira de Honduras para exilar-se em São Domingos. Desta forma, ele se converteu no primeiro presidente latino-americano nesta década a: 1) ter sido derrubado e substituído pelo líder do parlamento; 2) ter retornado a seu país para exilar-se numa embaixada (geralmente ocorre o inverso, os perseguidos primeiro se refugiam numa embaixada para em seguida deixar o país); e 3) ter sido embarcado para o exterior pelo novo mandatário, assim que este assumiu o cargo.
O golpe sofrido por Zelaya contou com o repúdio unânime da comunidade internacional, unida em torno da sua restituição ao poder. A OEA, que pediu a readmissão de Cuba, transformou Honduras em seu único membro suspenso. Apesar disto e das diversas pressões sociais, e ainda do fato de Zelaya ter usado a embaixada brasileira como base para sublevar a população, ele não conseguiu retornar ao governo. Hoje, não lhe resta nada além de aceitar seu fracasso.
Outros fatores
Ele não teve a força social que teve Chávez quando, em 2002, reverteu o golpe militar de que foi vítima. Tampouco contava com sindicatos radicalizados tipo Bolívia e Equador, ou com uma guerrilha. Os governos que o apoiaram (em particular, a ALBA) não quiseram enviar tropas para ajudá-lo a restabelecer sua autoridade.
Em vez de tentar uma sublevação popular, ele procurou uma saída pacífica e confiou nas gestões de Arias, que pretendeu ganhar tempo até terminar avalizando as eleições convocadas pelo mesmo governo que ele acusou de ser “golpista”.
Em Honduras, Zelaya foi reprovado pelos cinco poderes que mantiveram certa coesão em sua destituição (o legislativo, o judiciário, o militar, a mídia e o setor empresarial). Os EUA fizeram um jogo duplo (nas palavras, condenaram o golpe, mas nas ações tiveram interesse no fracasso do pró-chavista Zelaya).
O que resta
Os adeptos de Zelaya têm duas opções. A primeira é tentar uma transação com o novo governo, com o intuito de obter cargos públicos, reformas ou uma nova constituição. A outra é continuar desenvolvendo uma oposição social que venha a explorar os erros do novo governo conservador, para tentar derrubá-lo ou substituí-lo pelas vias eleitorais.
(*) Analista de política internacional, Isaac Bigio lecionou na London School of Economics e assina coluna no jornal peruano Diario Correo. Fale com ele pelo e-mail [email protected] ou pelo Blog do Leitor. Tradução: Angélica Resende/brpress.