Interlúdio de crise
(Londres, brpress) - Em 06/05, país deve realizar eleições gerais, cujo resultado pode não apenas mudar seu destino, mas também influenciar o resto do mundo. Por Isaac Bigio.
Isaac Bigio*/Especial para brpress
(Londres, brpress) – Nos últimos 13 anos, o trabalhismo se manteve no poder durante três mandatos consecutivos. No entanto, no último ano, todas as pesquisas mostram que o partido vem sendo ultrapassado pelos conservadores, que podem derrotá-lo nas eleições como, há alguns meses, arrebatou-lhes a prefeitura de Londres.
Em 1997, Tony Blair tornou-se primeiro-ministro pregando o “novo trabalhismo” e propondo uma via intermediária entre a privatização radical dos novos liberais e a forte estatização dos velhos trabalhistas. Assim se criou a doutrina da Terceira Via, encabeçada pelo sociólogo Anthony Giddens e que seria seguida por gente tão díspare como Chávez na Venezuela, Toledo no Peru e Fernando Henrique Cardoso no Brasil.
Difusão
Sua idéia de empurrar a social-democracia para o centro e de estabelecer maior cooperação com os EUA marcou outros partidos da Internacional Socialista na Europa, assim como de muitos dos que governaram até recentemente nas Américas do Sul e Central (PS do Chile, APRA do Peru, PLN da Costa Rica e o FA do Uruguai).
Ainda em 1997, Blair substituiu os18 anos de administrações conservadoras. Esse longo período se iniciou quando Margaret Thatcher decidiu restringir o poder sindical e a forte intervenção estatal na economia, criando o modelo monetarista que daria origem ao vocábulo “privatização” e que acabaria sendo seguido em todo o mundo.
Reflexos
O modelo de Thatcher pós-1979 e o de Blair pós-1997 alteraram radicalmente a política mundial. Graças ao primeiro, os EUA lograram desintegrar a União Soviética e reestruturam o globo em torno de receitas de livre mercado. Graças ao segundo, os EUA garantiram o unilateralismo, mas também se iniciou, a partir da direita, uma corrida em direção a políticas “moderadas” em muitas parte do mundo.
Tanto Thatcher como Blair foram substituídos por primeiros ministros de seus próprios partidos, os quais serviram de transição para uma nova era dominada pela oposição. Há mais de um ano, o conservador David Cameron lidera todas as pesquisas.
Nem lá, nem cá
Um eventual governo seu daria início a uma nova mudança histórica no Reino Unido, desta vez em direção a uma forma de “conservadorismo compassivo”.
No entanto, existe uma grande possibilidade de que, em vez de que haja um claro vencedor, se chegue, pela primeira vez desde 1974, a um parlamento sem que ninguém tenha uma maioria absoluta. Isso que daria início não a uma nova era dominada por um partido, mas a um interlúdio de crise.
(*) Analista de política internacional, Isaac Bigio lecionou na London School of Economics e assina coluna no jornal peruano Diario Correo. Fale com ele pelo e-mail [email protected] ou pelo Blog do Leitor. Tradução: Angélica Resende/brpress.
