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Cena de Antes da Coisa Toda Começar.Mauro Kury/DivulgaçãoCena de Antes da Coisa Toda Começar.Mauro Kury/Divulgação

Encenação de encher olhos e ouvidos

(São Paulo, brpress) – Antes da Coisa Toda Começar, que estreia em SP nesta quinta (17/02), é “multiplot” onde a angústia parece ser o principal ponto em comum –mas não o único. Por Lucianno Maza.

(São Paulo, brpress) – Com mais de 20 anos de trajetória, a Armazém Companhia de Teatro, nascida em Londrina, no Paraná, e radicada no Rio, estreia em São Paulo seu novo espetáculo: Antes da Coisa Toda Começar, nesta quinta (17/02), às 19h30, no Centro Cultural Banco do Brasil.

    A peça é um “multiplot” (termo do cinema para designar narrativas que valorizam diferentes linhas de ação), como outros sucessos do grupo como Pessoas Invisíveis, A Caminho de Casa e A Inveja dos Anjos, e apresenta três histórias onde a angústia parece ser o principal ponto em comum – mas não o único.

    Num velho teatro, um espectro evoca três personagens e suas tramas: uma jovem lidando com o sabor de um amor incestuoso, uma cantora que sobreviveu à seu suicídio e um ator buscando o sentido da sua vida e seu trabalho. São essas três histórias – que não se cruzarão objetivamente – que acompanhamos ao longo das duas horas.

Evolução

    O texto é do diretor da companhia, Paulo de Moraes, e seu habitual parceiro, o poeta Maurício Arruda de Mendonça. É visível a evolução da obra desde seu embrião apresentado no FIT – Rio Preto, então batizada apenas como Antes; histórias foram aprofundadas e novos elos surgiram, em geral com bom resultado.

    No entanto, ainda se vê um discurso externo (como se fossem ideologias dos criadores) que se sobrepõe ao que pretende ser fala dramática dos personagens, atrapalhando o fluxo narrativo.
Neste sentido, os autores se saem muito melhor nas cenas da cantora Léa e do ator Téo (aquelas em que ele está em casa, despojadamente), em detrimento àquelas da jovem Zoé – onde carregam na visão romântica da vida, morte e paixão, e acabam flertando com o pueril.

Explosão musical

    A ótima encenação de Moraes enche os olhos e ouvidos: explora muito bem o engenhoso espaço cênico – criado por ele e Carla Berri – que, além de multiplicar os ambientes, acolhe muito bem a banda formada pelos atores. A companhia, que sempre se relacionou com a música, explode essa relação agora com a excelente ideia de assumir a música como um show de rock dentro da cena, renegando de certa forma seu realismo.

    Dirigida por Ricco Viana – também em cena empunhando sua potente guitarra –, a parte musical é excepcional e deliciosamente eclética. Começando com um estranho e interessante arranjo para Perfect Day, de Lou Reed, passando por uma interpretação empolgante de I Am The Walrus, dos Beatles, até uma divertida versão de I Feel Love, de Donna Summer.

    Trata-se de uma das melhores trilhas sonoras no teatro dos últimos tempos, muito apoiada também no talento espetacular de Simone Mazzer.

Baixas no elenco

    Infelizmente, o público de São Paulo não assistirá ao trabalho de Mazzer. A atriz e cantora – destaque absoluto na temporada de estreia, com sua fúria incontrolável – está envolvida num projeto com o diretor francês Jean-Paul Delore.

    Para compensar a baixa, entra no elenco Rosana Stavis, uma das principais atrizes de Curitiba, cujo ótimo desempenho já pôde ser conferido pelos paulistanos nas montagens da Marcos Damaceno Cia. De Teatro (como 4.48 Psicose e Sonho de Outono). Caberá a ela construir uma nova possibilidade da mais rica personagem da peça: uma cantora cujo fracasso na carreira e na vida se confundem.

    Outra que não estará em São Paulo é Verônica Rocha, que fazia a irmã, e será substituída por Camila Nhary.

Talentos que continuam

    Quem também chama atenção no elenco – e continua nele – é Ricardo Martins, apresentando seu melhor trabalho desde a estreia na companhia. Sua composição do espectro do teatro é sensível, cheia de tempos delicados e pontuada com melancolia. Já quando surge como Rufus, consegue transcender uma caricatura gay, humanizando o personagem em divertidas passagens.

    Thales Coutinho responde pelo personagem do ator angustiado. É reconhecível e admirável como extrai ótimos momentos quando seu texto permite – quando a condição de homem é o foco, e não seu trabalho como criador. Sua parceira de cena, Simone Vianna, atroz de olhar expressivo, se sai bem em todas suas participações no espetáculo.

    Já Patrícia Selonk tem resultado mais tímido do que de costume. A atriz de interpretações memoráveis – como em Pessoas Invisíveis e Toda Nudez Será Castigada (pelo qual foi agraciada com o Prêmio Shell) – usa bem seus recursos físicos e a prosódia vocal para lidar com uma personagem pouco interessante e ainda assim, em última instância, sua personagem soa como uma aborrecida adolescente em seu amor juvenil e febril pelo irmão e suas experiências de libertação.

    Marcelo Guerra, o irmão em questão, vai pelo mesmo caminho sendo prejudicado ainda mais por seu personagem que é apresentado superficialmente.

Livro

Para quem quiser conhecer mais da dramaturgia autoral da Armazém Companhia de Teatro, foi lançado recentemente o livro Inveja dos Anjos (Kan Editora/Armazém; R$30,00), edição bilíngue caprichada do premiado texto da penúltima peça do grupo, escrita pelos mesmos autores de Antes da Coisa Toda Começar.

Sessões: de quarta a sábado, às 19h30; domingo às 18h. Até 03 de abril.

Ingressos: R$15,00.

(Lucianno Maza, do Caderno Teatral / Especial para brpress)

Centro Cultural Banco do Brasil – Rua Álvares Penteado, 112; (11) 3113-3651

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