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Betty Faria em cena de Shirley Valentine.DivulgaçãoBetty Faria em cena de Shirley Valentine.Divulgação

Betty Faria volta em espetáculo cativante

(Rio de Janeiro, brpress) - Atriz dá nova dimensão e interpretação delicada a Shirley Valentine, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil. Por Lucianno Maza.
(Rio de Janeiro, brpress) – O recorrente tema da mulher de meia idade que recebe, à certa altura de um casamento infeliz, o chamado da felicidade ganha nova versão, com a atriz Betty Faria no papel principal de   Shirley Valentine, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil.

 A peça ganhou em 1986 uma versão bem humorada e emocionante assinada pelo dramaturgo inglês Willy Russel. Shirley Valentine, nome do texto e de sua protagonista, conta a história de uma dona de casa que percebe sua infelicidade ao lado do marido e, liberta dos filhos já crescidos, assume o risco de ser feliz, partindo para seu maior sonho: uma viagem à Grécia, onde acaba se apaixonando menos pelo belo grego que conhece – a este, cabe especialmente satisfazê-la sexualmente – e mais por si própria.

 Russel burla o problema dos monólogos tradicionais que usam a quarta parede (onde os personagens falam sozinhos), com um recurso simples, ao colocar Shirley Valentine assumidamente dialogando com a parede de sua cozinha, enquanto prepara o parco jantar de seu marido e, depois, com outros objetos inanimados. 

 Em 1989, a peça virou filme estrelado por Pauline Collins (indicada ao Oscar) e , dois anos depois, ganhou sua primeira versão brasileira com Renata Sorrah no papel título. A tradução de Euclydes Marinho, e a adaptação dele e de Guilherme Leme – o diretor da montagem – é bastante eficiente e flui sem problemas. 

 O corte de boa parte do original feito pela dupla condensa a trama, não comprometendo em nada o entendimento da história e está em sintonia com o limite de atenção confortável de nossas plateias de hoje. É curioso, no entanto, que sendo Shirley Valentine um nome já conhecido do público, especialmente pelo filme de Lewis Gilbert, não parece fazer sentido o abrasileiramento da pronúncia do sobrenome da personagem, a não ser, talvez, pela tentativa de evidenciá-lo como derivação do adjetivo valente.

Ator dirigindo atriz

 Dirigida com competência por Leme, fica clara a opção acertada dele em Shirley Valentine por uma condução delicada da cena, dispensando arroubos de criatividade e buscando a simplicidade e consistência da atuação. Sendo ele um ator de larga experiência e, mais recentemente, um bom diretor de seus colegas, Leme prioriza o trabalho de Betty Faria, conseguindo estabelecer, por meio dela, tempos interessantes num ritmo sem solavancos no processo evolutivo da descoberta pessoal da protagonista.

 O cenário de Aurora de Campos é interessante e bonito – seja na primeira parte da peça, com a simplicidade da cozinha cuja co-protagonista é uma parede de azulejos, seja, especialmente, na terceira parte com a praia grega belamente iluminada por Wagner Freire. 

 Ainda sobre a cenografia, cabe observar que as trocas de cenário propostas por Leme destoam do tempo suave de sua montagem, com a interferência de luzes piscantes e uma trilha sonora de Marcello H que não se relaciona bem com a trama, com músicas de Mart’nália e Bebel Gilberto. Mais interessante são as músicas incidentais, como uma versão instrumental de Por Isso Eu Corro Demais, sucesso de Roberto Carlos, que abre o espetáculo.

Maturidade cênica

 Voltando aos palcos mais de dez anos após seu último trabalho no teatro, Betty Faria, atriz que pertence ao imaginário popular por seus papéis sensuais na televisão e cinema e pelos ensaios para revistas masculinas, expõe sua maturidade sem medo. 

 Oposta à cultura da eterna beleza propagada pela televisão e seus recursos de anti-envelhecimento, a atroz passa segurança ao surgir com um corpo menos vigoroso e sem maquiagem – um ato de coragem e que dialoga perfeitamente com a personagem.

 Sem afetações de diva, Faria constrói sua Shirley Valentine com delicadeza, numa das melhores interpretações de sua carreira. Se na primeira parte, a atriz dá o melancólico peso de todos os anos de cárcere matrimonial – ao mesmo tempo em que nos faz entrever seus desejos adormecidos –, é na sequência da Grécia onde se destaca.

 Betty Faria mostra, de forma gradativa, a conquista da leveza pela personagem e seu movimento de descoberta e paixão pela vida, em seu verdadeiro amadurecimento como mulher. Uma Shirley Valentine cativante.

Sessões: quarta a domingo, às 20h. Até 08/05.
Ingressos: R$10,00.

(Lucianno Maza, do Caderno Teatral/ Especial para brpress)

Centro Cultural Banco do Brasil: Rua Primeiro de Março, 66; (21) 3808-2020
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