A doce disrupção chocólatra de Wonka
Prequel de A Fantástica Fábrica de Chocolate é um doce – e disruptivo – presente de Natal para todos os públicos.
(brpress) – Esqueça as guerras na Ucrânia e Gaza, as despesas inesperadas de final de ano, a correria desenfreada, a depressão com toda essa vibe comercial e vazia, e, principalmente, aquela festa em família e/ou da firma que (ainda bem) não tem nenhuma chance de sucesso. Chatices de final de ano à parte, tem algo que vai fazer sua criança espevitada e seu adulto borocoxô sorrirem: Wonka!
A prequel (história que se passa antes daquelas já contadas) de A Fantástica Fábrica de Chocolate que chega aos cinemas do Brasil nesta quinta-feira (07/12) é um doce – e disruptivo – presente de Natal para todos os públicos. Sim, o ator-coqueluche do momento Timothée Chalamet funciona e muito bem como o chocolatier Willy Wonka, do clássico de Roald Dahl, de 1964.
Romântico
Mesmo passando longe da excentricidade de Johnny Depp, no filme de Tim Burton (2005, disponível na Netflix, junto a outras obras de Dahl), e do cinismo histriônico de Gene Wilder, no primeiro filme de 1971 (roteirizado pelo próprio Dahl), o Willy de Chalamet é um bom moço romântico. Um jovem ingênuo que chega a Paris (que mais parece Londres) com a roupa do corpo, nenhuma grana, muitos sonhos e chocolates pra lá de mágicos. São como pílulas contra o conformismo, a mesmice e a tristeza.
Wonka tem tudo para surpreender até os mais céticos, que dirá os chocólatras. Os chocolates Wonka são uma droga poderosa, que, além de deliciosa, causa vários efeitos naqueles que a consomem: letargia, doideira, comportamento de bêbado e até levantar voo. Sem falar na felicidade e predisposição para amar como se não houvesse amanhã. Bala. Não é como chamam?
Abaixo a opressão
Seria de se estranhar que o cartel do establishment chocolateiro da cidade – uma divertida e inescrupulosa metáfora das grandes corporações – não se unisse para boicotar e, eventualmente, eliminar Willy e sua turma, em especial a “cabeça” do empreendimento: a órfã Noodle (Calah Lane) com quem Willy se alia de bate pronto contra a exploração e aliciamento. Não por acaso, Noodle é negra.
Noodle, Willy e outras figuras encarnadas por ótimos atores (como Jim Carter, o Sr. Carlston, mordomo de Downton Abbey) trabalham em regime análogo à escravidão no estabelecimento de um casal horripilante que mais parece saído de Sweeney Todd (Olivia Colman e Tom Davis).
Elenco primoroso
Não bastasse Hugh Grant, um show à parte como um insolente e cheio de moral Oompa Loompa, ainda temos Rowan Atkinson AKA Mr. Bean na pele de um padre corrupto e, claro, bem engraçado.
Junte esse elenco primoroso a um roteiro cheio de timing, diálogos sarcásticos e músicas que não são chatas (sim, Wonka é fiel ao seu gênero original, musical) e temos um filme encantador. Mérito da dupla de novos talentos britânica, o roteirista Simon Farnaby e o roteirista e diretor Paul King (que assina Paddington), que entrega uma fábula saborosa em que cacau e sociologia se misturam com perfeição.
Certamente, Farnaby & King voltarão para explicar como o doce Willy Wonka se tornou aquela figura estranha, megalomaníaca e egóica que conhecemos.
(Juliana Resende, brpress)
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