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Vicky Krieps como Sissi, em Corsage: Melhor Atriz em Cannes. Foto: ImovisionVicky Krieps como Sissi, em Corsage: Melhor Atriz em Cannes. Foto: Imovision

Corsage é um espartilho prestes a arrebentar

Feminista e poético. filme inspirado na imperatriz Sissi da Áustria promete ir mais longe que o circuito de cinema de arte. Por Juliana Resende

(brpress) – Corsage (2022), eleito Melhor Filme do 66o. London Film Festival – e um dos filmes em que esta que vos escreve apostou entre dezenas de produções  de que haviam causado em festivais anteriores ao de Londres, como Cannes (onde Corsage também ganhou prêmio ) – é como um espartilho pronto para explodir. Feminista, poético, bem realizado e agora indicado ao BAFTA, o equivalente britânico ao Oscar, de Melhor Filme Estrangeiro, a coprodução entre Áustria, Luxemburgo, Alemanha e França promete ir mais longe que o circuito de cinema de arte. 

Contemporâneo e “de época” ao mesmo tempo, Corsage está em sintonia com a onda de recortes biográficos de mulheres que, a seu modo particular, abalaram núcleos de poder questionando dogmas da monarquia, da hierarquia e do absolutismo da sociedade patriarcal. Fazendo coro com Spencer, A Favorita e Maria Antonieta, de Sofia Coppola, nossa heroína da vez é a rainha Elisabeth da Áustria, que se tornou a primeira celebridade da realeza sob a alcunha de Sissi. 

Rebeldia

Dona de uma cinturinha de pilão e um gênio ardiloso, a real Sissi da Baviera  era mais reprimida e deprimida que essa criatura destemida que o filme de Marie Kreutzer ostenta, na interpretação cativante de Vicky Krieps (Melhor Atriz da mostra Un Certain Régard, em Cannes). A Sissi de Kreutzer passa longe das rainhas dos contos de fadas (esqueça a Sissi de Romy Schneider). Ela é rock n’ roll – como a trilha de Corsage, que incluiu clássicos do gênero como As Tears Go By, de Marianne Faithful, eternizada pelos Rolling Stones. 

Em plena crise dos 40, quando a mulher era considerada velha em 1877, Corsage mostra uma Sissi dividida entre apertar cada vez mais o espartilho, aulas de esgrima, longas cavalgadas, hábitos excêntricos como caminhadas extenuantes e jejuar constantemente – tudo para manter a forma e sustentar a imagem pública –; e outros nem tanto, como ficar com o primo, dispensar aquela armação de ferro usada debaixo das saias para fazer volume, lançando a moda de um look mais esportivo e esguio, além de viajar sozinha (considerado inadequado para uma mulher à época). 

Entre um cigarrinho violeta e outro, Sissi se enfumaça de rebeldia e disfarça a melancolia da personagem real, que, aprontando das suas, ajudou a consolidar o império austro-húngaro (era idolatrada na Hungria, onde parece ter se encontrado como indivíduo, independente dos títulos de nobreza, passando várias temporadas no país).   

Fato e fake

Fato: Sissi digladiava não só com o ideal de imagem  – uma evidente crítica do filme à ditadura da beleza e da juventude – mas com a rudeza do marido, o rei Francisco José, o luto pela morte da filha aos 2 anos, de tifo, e a ideia de que mulher só servia para parir e mesmo as nobres deveriam se limitar à esta árdua tarefa, visando gerar herdeiros homens. Corsage é um tapa na cara dessa predestinação vazia e tediosa. 

Fake: Fantasioso, o filme não é fiel aos fatos, mas sim ao mood de uma mulher com vida própria sufocada pelas amarras de espartilhos de couro, como os usados pelas cortesãs de Paris (que ela trazia de suas escapadas na Cidade Luz), assim como pela futilidade e hostilidade da corte de Viena.

Assassinada a facadas por um anarquista italiano – e não suicidando-se ao pular da proa de um transatlântico como sugere Corsage –, na vida real, a rainha Elisabeth da Áustria que agora enche a tela é mais uma instigante representação artística da potência feminina com uma verve libertadora e transgressora. Que o cinema traga mais destas mulheres à tona.

PS – Elisabeth da Áustria também é tema da série A Imperatriz (Netflix). 

(Juliana Resende, brpress)

Assista ao trailer de Corsage:

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Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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