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Llosa à direita do Nobel

(Londres, brpress) - Escritor é o primeiro "direitista" que ganha um Nobel de Literatura na América Latina – algo que o finado Jorge Luís Borges nunca pôde conseguir. Por Isaac Bigio.
Isaac Bigio*/Especial para brpress

(Londres, brpress) – Mario Vargas Llosa achou que era trote quando recebeu o telefonema comunicando que havia ganhado o prêmio Nobel de Literatura. Esta premiação, que é feita desde o ano de 1901, foi entregue a quase mil pessoas em seis áreas: medicina-fisiologia, química, física, economia, paz e literatura. No entanto, é a primeira vez que o Nobel é dado a alguém que nasceu no Peru, pouco signficativo em termos mundiais mas importante peça da civilização inca – o maior império pré-colombiano.

 Não pude deixar de me emocionar por ele. Vargas Llosa é meu compatriota e com ele divido o fato de ter vivido na Bolívia e na União Européia. Desde menor de idade, pude lê-lo e conversar com ele em muitas ocasiões. Lembro de, há 15 anos, tê-lo visto todo orgulhoso na London School of Economics, assistindo à graduação de sua filha Morgana, que era a única outra peruana que cursava história comigo nesta universidade.  Imagino quanto orgulho deve sentir minha amiga pelo seu pai.

Política

 Porém, esta premiação não deve ser de total agrado para a maior parte dos governos esquerdistas de seu subcontinente nativo, que o vêem como uma espécie de “renegado”. O último Nobel de Literatura que um ibero-americano ganhou – o comunista português José Saramago –, não pôde ser apreciado pelo premiado, que faleceu poucas semanas antes.

 Semelhante aos outros quatro prêmios Nobel de Literatura hispano-americanos –  Gabriela Mistral (1945), Pablo Neruda (1971), Gabriel García Márquez (1982) e Octavio Paz (1990) –, Vargas Llosa havia militado como esquerdista. Os dois primeiros foram chilenos que adotaram pseudônimos. Neruda foi comunista, Gárcia Marquez é amigo fiel de Fidel Castro e Paz, embora tenha se afastado do castrismo, sempre se considerou como um homem de esquerda.

 Vargas Llosa, por sua vez, transformou sua admiração pelo revolucionarismo com “ferros” de uma ilha do Caribe pela “dama de ferro” de uma ilha na Europa. De torcedor da “revolução socialista” de Castro passou a ser um fã da “revolução privatizante” de Thatcher.

 As esquerdas têm questionado como se deu o Prêmio Nobel da Paz a figuras norte-americana que foram considerados “terroristas” pelas esquerdas, como Henry Kissinger (em 1973, o mesmo ano em que promovia o Pinochetaço e pouco antes do reinício da guerra vietnamita) ou a Obama ( em 2009, pouco antes de enviar mais tropas para ocupar o Afeganistão). No entanto, forma os próprios esquerdistas estes monopolizaram os prêmios Nobel de Literatura na América hispânica.

Ruptura

 Vargas Llosa rompeu com esta tradição. Há muito tempo se distanciou de todos os seus antigos camaradas que seguem simpatizando com o anti-imperialismo, para converter-se em um dos maiores propagadores do neoliberalismo pró-EUA. Apesar de ser o primeiro Nobel nascido no que foi a chamada “civilização socialista inca”, Llosa é  um oponente dos movimentos indianistas  e chegou a adotar a nacionalidade espanhola.

 Ele é, então, o primeiro direitista que ganha um Nobel de Literatura na América Latina – algo que o finado Jorge Luís Borges (1899-1986) nunca pôde conseguir.

 A América do Sul é um dos seis continentes, mas só dez prêmios foram conseguidos por pessoas nascidas nele ( algo como 1% do total),  sendo a metade deles argentinos. Apesar de a maioria das nações da América Latina nunca tenham ganhado um prêmio Nobel e que todos que esta região obteve somam apenas 19 (igual a todos os obtidos pelo pequeno reino holandês e 16 vezes menos que os 324 que conseguiram os Estados Unidos), os latino- americanos devem se sentir orgulhosos porque o país que tem mais Nobel per capita do mundo é uma pequena ilha que criou seu próprio idioma crioulo latino-americano: Santa Lucía.

(*) Analista de política internacional, Isaac Bigio lecionou na London School of Economics e assina coluna no jornal peruano Diario Correo. Fale com ele pelo e-mail [email protected] ou pelo Blog do Leitor. Tradução: Angélica Resende/brpress, colaborou Camila Téo/Especial para brpress.

Leia mais sobre Mario Vargas Llosa aqui .

Isaac Bigio

Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e Política Econômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latina pela London School of Economics . Tradução de Angélica Campos/brpress.

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