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O hospital de al-Shifa: invasão questionada. Foto: WikipediaO hospital de al-Shifa: invasão questionada. Foto: Wikipedia

Invasão de al-Shifa traz alto custo político e moral

Hamas, OMS, HRW, médicos e diretor do hospital negam existência de bunker e operações dentro ou sob o complexo e sugerem inspeção.

(brpress) – Artefatos e armas que, comparados ao que é encontrado em operações policiais em favelas do Rio, parecem insignificantes. Nenhuma prova até agora de que há de fato um bunker do Hamas embaixo do hospital al-Shifa, o maior de Gaza, invadido pelo exército de Israel, que controla tudo dentro e nos arredores do complexo – quem entra, quem sai, médicos e até os médicos e os que lutam pela própria vida. 

Militares encontraram computadores, supostamente deixados pelo Hamas contendo imagens de reféns israelenses (não divulgadas). É o que Netanyahu apresenta ao mundo. E é muito pouco.

A invasão, portanto, não teria justificativa e fere a proteção de instituições de saúde em guerras, segundo a organização internacional de direito humanitário Human Rights Watch e outras instituições de peso, como a Organização Mundial de Saúde (OMS). O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, condenou a invasão e declarou: “Lamentavelmente, o hospital não funciona mais como hospital”.

Mas por que então Israel e os EUA seguem bancando a operação a um imenso custo político? É a pergunta que não quer calar.  

Sem entrevistas

A jornalista da BBC que entrou no hospital com tropas israelenses foi proibida de entrevistar médicos e pacientes (palestinos): “Parece que houve um terremoto nos arredores”, descreveu a repórter britânica Lucy Williamson, à BBC 4. Eis um trecho da sua reportagem:

“Os militares mascarados que nos conduzem para dentro do prédio, por meio de escombros e vidros quebrados, são um sinal de que a situação ainda é muito tensa aqui. 
A nossa presença, apenas um dia depois de Israel ter tomado o controle do hospital, diz muito sobre sua motivação para mostrar ao mundo porque está neste local.
Nos corredores bem iluminados da unidade de ressonância magnética, o tenente-coronel Jonathan Conricus, porta-voz das Forças de Defesa de Israel, nos mostra três pequenos esconderijos de Kalashnikovs, munições e coletes à prova de balas — ele alega que foram encontradas cerca de 15 armas ao todo, junto com algumas granadas.
Conricus também nos mostra alguns livretos e panfletos militares, e um mapa que ele diz estar marcado com possíveis rotas de entrada e saída do hospital”.

Lucy Williamson
Inspeção

O Hamas, as autoridades de saúde e os diretores do próprio al-Shifa negaram a existência de infraestruturas militares e operações dentro ou sob o complexo médico. Eles também dizem aceitar com satisfação uma inspeção internacional. A Casa Branca, que apoia Israel na invasão de al-Shifa e afirma ter evidências de que o hospital é usado pelo grupo, ainda não se manifestou sobre essa possibilidade. 

Israel já alegou anteriormente que o Hamas usou áreas subterrâneas de vários hospitais para se esconder. O mesmo foi dito durante a guerra de 2008-2009. “Os israelenses mentiram no passado e mentem novamente agora, sem apresentar quaisquer evidências reais de que al-Shifa é usado pelo Hamas”, afirmou um chefe do Hamas à BBC. A guerra de narrativas é tão brutal quanto a violência.

Mapa do complexo médico de al-Shifa, recém—disponibilizado na Wikipedia, por autor desconhecido.
Ponto nevrálgico

Al-Shifa foi construído em 1946 durante o domínio britânico, dois anos antes de a Grã-Bretanha se retirar da Palestina. Sobreviveu à invasão do Egito em 1948 e a duas décadas de regime militar egípcio. Em 1967, após incursão de Israel à Faixa de Gaza, al-Shifa continuou a ser um ponto nevrálgico do conflito (muito antes do Hamas) para onde muitos palestinos foram levados durante confrontos com tropas israelenses.

Durante a década de 1980, o complexo hospitalar foi reformado e redesenhado por arquitetos israelenses. Zvi Elhyani, fundador do Arquivo de Arquitetura de Israel, escreveu no Ynet em 9 de novembro: “Com a ajuda americana, Israel embarcou em um projeto para reformar e ampliar o complexo hospitalar. Este empreendimento também envolveu a instalação de um piso subterrâneo”.

Isso é fato. Agora, a mídia, ONGs, talvez a ONU e o mundo querem provas factíveis da existência desse bunker em al-Shifa. E mesmo que ele exista, a invasão e cerceamento de um hospital de guerra se justifica moralmente?

(Juliana Resende, brpress)

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Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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