WikiLeaks: poder por trás das sombras
(Londres, brpress) - Relatórios e telegramas dos serviços diplomáticos dos EUA revelados pelo site evidenciam impotência da maior potência de todos os tempos. Por Isaac Bigio.
(Londres, brpress) – O site WikiLeaks revelou uma série de relatórios secretos dos serviços diplomáticos dos EUA, que evidenciam três coisas com relação à maior potência de todos os tempos: 1) a impotência frente à filtragem de notícias importantes; 2) a fragilidade de sua confiabilidade; e 3) as intrigas do poder por trás da retórica.
A candidata à vice-presidência derrotada (Sarah Palin) sustenta que se deveria caçar o criador dos WikiLeaks (Julian Assange) como se fosse um terrorista talibã. No entanto, ele proclama que tem o direito constitucional e a obrigação de divulgar democraticamente o que considera ser o jogo sujo dos governantes.
Apesar de o WikiLeaks ter sofrido duas investidas cibernéticas para derrubar seus serviços, o site conseguiu permanecer no ar. Os EUA não podem suspender seus serviços, pois isso prejudicaria ainda mais sua reputação, acusados de serem autoritários.
As novas tecnologias não apenas ajudam a melhorar os mecanismos de espionagem, mas também estão sujeitas a sérios vazamentos de informações. Com os documentos expostos pelos WikiLeaks pode-se saber como operam, atrás do palco, os que decidem sobre a política externa da megapotência.
América Latina
No caso da América Latina, pode-se ver como os EUA querem pressionar o Brasil (que, ainda que tenha Lula na presidência, foi seu aliado tradicional) para que se distancie do eixo Chávez -Morales, mesmo antes da eleição do atual presidente boliviano, para tentar evitar que este chegasse à presidência, ou que se diminuísse o apoio venezuelano a este.
Sobre a Argentina , nota-se como a diplomacia norte-americana vê com ressentimento o presidente Kirchner, que levou o peronismo, antes afinado com o Tratado de Livre Comércio (TLC) e os EUA durante o governo Menem, a uma política de aproximação com Caracas. A própria secretária Hillary Clinton pede uma informação sobre o estado mental da nova presidente Cristina Kirchner, para saber como pode influenciar na política argentina e sul-americana.
Oriente Médio
Com respeito ao Oriente Médio, vê-se a pressão das casas reais árabes para que os EUA ataquem o Irã, afirmando que é preciso cortar a cabeça da serpente para evitar um risco maior, que seria o de permitir que Teerã venha a possuir armas nucleares.
Ao mesmo tempo, mostra a dupla política dos monarcas do petróleo, que falam em defender os direitos dos palestinos, mas suas preocupações não são tanto em apoiar as denúncias que estes fazem das incursões bélicas israelenses, mas em como subjugar seus ?irmãos? muçulmanos persas.
São estas mesmas famílias árabes que conseguiram empurrar os EUA à guerra contra o Iraque em 1991 e 2003, e que hoje encabeçam um lobby para ir a uma empreitada militar muito mais arriscada: atacar o Irã (um país com uma população, armamento, relações diplomáticas e legitimidade constitucional mais fortes que o Iraque de Hussein, que enfrentava fortes resistências internas).
(*) Analista de política internacional, Isaac Bigio lecionou na London School of Economics e assina coluna no jornal peruano Diario Correo. Fale com ele pelo e-mail [email protected] ou pelo Blog do Leitor. Tradução: Angélica Resende/brpress.
INTERNACIONAL
COLUNISTA ? Giro pelo mundo em resumo
Isaac Bigio – Política Internacional
A coluna semanal é caracterizada por textos curtos, trazendo informações objetivas e sobre as principais notícias internacionais do momento ? um diferencial em análise da geopolítica global. Residente em Londres, Bigio lecionou na London School of Economics e assina coluna no jornal peruano Diario Correo.