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Henry Kissinger apoiou ditadura militar no Brasil. Foto: Kai MoerkHenry Kissinger apoiou ditadura militar no Brasil. Foto: Kai Moerk

Henry Kissinger, a ditadura que o inglês viu e o americano apoiou

Visita do político e diplomata ao Brasil solidificou posição dos EUA como aliado da ditadura militar, levando Geisel a Londres, conforme livro.

(Londres, brpress) – Acordamos nesta quinta-feira (30/11) com a notícia da morte, aos 100 anos, do político e diplomata Henry Kissinger, que foi secretário de Estado dos Estados Unidos, de 1973 a 1977, cargo equivalente ao de ministro das Relações Exteriores do Brasil, e conselheiro de segurança nacional do governo americano, visitou o Brasil em fevereiro de 1976. durante o mandato do presidente Ernesto Geisel.

A visita de Kissinger ao Brasil solidificou a posição dos EUA como um poderoso aliado e apoiador da ditadura militar. Esse período obscuro da história brasileira recente, que faz 60 anos em 2024, é esmiuçado, com um olhar “estrangeiro” no recém-lançado Geisel em Londres (Mauad X, 2023), do jornalista e escritor brasileiro radicado no Reino Unido Geraldo Cantarino, colaborador da brpress

Gentilmente, Cantarino selecionou passagens do livro que fazem referências a Henry Kissinger:

Kissinger X Don Helder no Nobel da Paz

No início de 1970, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Camara, já era uma voz de renome internacional contra injustiças sociais, miséria, violações de direitos humanos e os crimes da ditadura militar. Pela sua atuação contundente, Dom Helder foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz daquele ano, com grandes chances de vencer. Porém, o governo de Emílio Garrastazu Médici montou uma ardilosa, secreta e bem-sucedida campanha difamatória contra a sua indicação, por intermédio da Embaixada do Brasil em Oslo, na Noruega.

“A candidatura de Dom Helder Camara ao Prêmio Nobel da Paz foi apoiada nos anos seguintes por muitas personalidades europeias. Ele foi o único brasileiro indicado quatro vezes ao Nobel. Em 1973, sua candidatura foi apresentada por um grupo de parlamentares suecos. Com receio de que o arcebispo fosse premiado, o Itamaraty realizou ‘gestão preventiva’ na Embaixada da Noruega, em Brasília. O Prêmio naquele ano foi para Henry Kissinger, secretário de Estado norte-americano, e Le Duc Tho, político vietnamita, pela assinatura do Acordo de Paz de Paris para o fim da guerra no Vietnã. Como a paz não havia sido alcançada de fato, a escolha gerou muita controvérsia e foi considerada a mais polêmica da história do Nobel da Paz. Além disso, segundo alguns analistas, Kissinger era considerado um criminoso de guerra, por ter autorizado bombardeios que mataram milhares de civis. Le Duc Tho recusou o prêmio, Kissinger não compareceu à cerimônia de entrega e dois membros do comitê de premiação renunciaram. Dom Helder Camara, por sua vez, recebeu o ‘Prêmio Popular da Paz’, em Oslo, promovido por simpatizantes à sua candidatura, que conseguiram arrecadar cerca de 250 mil dólares para o arcebispo.”

Milagre econômico X ditadura

A reação negativa de um grupo de parlamentares britânicos à proposta de visita do presidente Ernesto Geisel ao Reino Unido em 1976 causou muita preocupação e afetou a sensibilidade do governo brasileiro. Para reafirmar a intenção do governo britânico no estreitamento de relações com o Brasil, o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores e chefe do Serviço Diplomático do Reino Unido, Michael Palliser, foi a Brasília conversar pessoalmente com o ministro das Relações Exterior, Antônio Azeredo da Silveira.

“Palliser esteve no país entre os dias 20 e 24 de fevereiro de 1976, um período de intensa atividade diplomática na capital federal. Afinal, coincidiu com a visita oficial de três dias ao Brasil do influente secretário de Estado americano Henry Kissinger. Na ocasião, foi assinado um memorando de entendimento entre o Brasil e os Estados Unidos, uma tentativa de resposta norte-americana às investidas do não alinhamento automático da política externa brasileira. Ao retornar a Washington, Kissinger prestou depoimento sobre sua viagem pela América Latina à Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes do Congresso americano, em 4 de março de 1976. “O Brasil é uma potência mundial emergente, com interesses e responsabilidades internacionais ampliados, não em virtude de termos concedido a eles essa posição, mas pela realidade do que o Brasil já conquistou”, afirmou o secretário de Estado. Para o embaixador [britânico] Derek Dodson, comentários como esse de Kissinger eram um exemplo da confiança no futuro do Brasil gerada pelo forte crescimento econômico dos últimos oito anos. Entretanto, o próprio embaixador reconhecia que, se havia enormes possibilidades para o Brasil a longo prazo, os desafios eram igualmente gigantescos. Mesmo assim, uma parte do Brasil andava de peito estufado, acreditando que o país já havia decolado rumo ao futuro e que o status de potência mundial era apenas uma questão de tempo. No entanto, havia um problema: a imagem de um país moderno que o governo tentava projetar contrastava com a imagem de injustiça social, pobreza, violência, ditadura e tortura, e o Brasil não conseguia se desvencilhar facilmente dessa contradição.”

Zuzu Angel X terrorismo de Estado

Em 1976, a renomada costureira e estilista Zuzu Angel completou cinco anos de uma obstinada busca por informações sobre o paradeiro de seu filho, Stuart Angel, desaparecido desde 14 de maio de 1971 nas mãos da repressão. Destemida, Zuzu bateu em muitas portas, inclusive de residências de generais e dos temíveis quartéis. Ela foi lá, como disse, na “boca da fera”. Peitou o silêncio das autoridades e da censura, repetiu sua história a torto e a direito, falou com Deus e o mundo.

“As denúncias de Zuzu Angel desafiavam o discurso oficial de que não havia tortura no Brasil. O governo passou a receber cartas de parlamentares norte-americanos pedindo explicações, causando constrangimentos ao Itamaraty. Para as autoridades brasileiras, a repercussão internacional do caso Stuart Angel criava embaraços aos órgãos de segurança, gerava grande incômodo aos comandos militares e comprometia a imagem do governo Geisel no exterior. Em uma de suas ações mais ousadas, Zuzu conseguiu burlar a segurança do secretário de Estado Henry Kissinger no Hotel Sheraton, durante a visita dele ao Rio de Janeiro em fevereiro de 1976, e entregar uma carta e um dossiê sobre Stuart a um dos assessores mais próximos do diplomata. ‘Eles não apenas o torturaram até a morte, mas também me privaram, sua mãe, de velar o seu corpo’, escreveu Zuzu a Kissinger. ‘Essas são as palavras mais sinceras que o Sr. vai ouvir nesta viagem’, completou. O dossiê entregue a Kissinger incluía informações sobre o desaparecimento de Stuart publicadas no livro ‘Os governos militares de 1969 a 1974’, da coleção História da República Brasileira, publicado em 1975 pelo jornalista e historiador Hélio Silva. O livro, que chegou a ser apreendido e proibido de ser reeditado, foi o primeiro a denunciar um assassinato político durante a ditadura.”

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