Drama acirrado
(Londres, brpress) - Carnificina não cessa, mas não se vislumbra, ainda, intervenção como na Líbia, devido à maior população, vetos da Rússia e da China e a grande disparidade de forças que existe entre o regime e seus divididos contrincantes. Por Isaac Bigio.
Isaac Bigio*/Especial para brpress
(Londres, brpress) – A crise síria se aprofundou após a matança em Houla, na última sexta-feira (25/05). Este fato fez com que os 15 membros do Conselho de Segurança da ONU tenham endurecido seu discurso frente ao governo de Assad, com a imediata vinda do seu secretário-geral, Koffi Aman, ao país.
De acordo com os meios de comunicação aliados a Damasco, teriam morrido 108 pessoas (incluídas 34 mulheres e 49 crianças), sendo a responsabilidade de tal “atrocidade” dos “terroristas” financiados pelos EUA. No entanto, a imprensa ocidental quer responsabilizar o regime do “socialismo paranabista” e seus partidários paramilitares shabbiha.
Desconfiança generalizada
Ainda não está claro quem perpetrou esta atrocidade, tanto que até o diário do establishment britânico The Times aceita que a “ditadura síria”, a que tanto ataca, não está muito longe da verdade quando denuncia a presença da Al Qaeda, que está tentando incentivar a tensão naquele país para jogar a maioria sunita contra os alawitas (tão identificados com seu correligionário Assad), gerando desconfiança entre as outras minorias religiosas.
Para os integristas muçulmanos, isso é parte de uma guerra santa internacional, com o objetivo de restaurar um califato sunita contra o Ocidente, os xiitas iranianos e os esquerdistas.
Pacificação ameaçada
Acontecimentos deste tipo vêm pondo em risco os acordos de pacificação propostos por Amã e dão força aos “duros” (como as petromonarquias árabes e a Turquia), que querem derrocar o governo “socialista republicano” há quase meio século, a fim de permitir que seus aliados sunitas locais assumam o país.
Até o momento, o governo sírio tem certa base popular devido a que seu aparato militar se mantem unido e forte graças às reformas sociais, à hostilidade que a nação toda alimenta contra os EUA e as intervenções estrangeiras, e ao temor ante o nacionalismo sunita por parte de amplos setores da classe média e de 1/3 da população que pertence a minorias religiosas.
Financiamento
No entanto, a oposição vem se fortalecendo, incitando o ressentimento da maioria sunita contra os alawitas, e recebendo dinheiro e armas dos aliados muçulmanos da OTAN. Segundo o The Times, o Qatar e outros emirados já enviaram mais de US$ 100 milhões ao rebelde Exército Livre Sírio, que teria duplicado o salário de seus oficiais (até os atuais US$ 400 mensais) e confirmado o pagamento de mensalidades a 15 mil combatentes.
Na convulsão síria que se iniciou há 14 meses já se produziram quase 10 mil mortos. A carnificina não cessa, mas não se vislumbra, ainda, uma intervenção como na Líbia, devido ao maior tamanho de sua população, vetos da Rússia e da China e a grande disparidade de forças que existe entre o regime e seus divididos contrincantes.
(*) Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e Política Econômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latina pela London School of Economics. É um dos analistas políticos latino-americanos mais publicados do mundo. Fale com ele pelo e-mail [email protected] , pelo Twitter @brpress e/ou no Facebook. Tradução: Angélica Campos/brpress.