Viajante Swift
(brpress) - Versão original de Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, recém-relançada no Brasil, é divertida e instigante, permitindo vários níveis de leitura.
Como observa George Orwell no prefácio incluído nesta edição, o livro de Jonathan Swift, apesar do seu tom muitas vezes amargo e provocativo, é uma obra divertida e instigante, que permite vários níveis de leitura.
Antes de tudo, é um relato de viagem. Mas, curiosamente, é também uma sátira aos livros de viagens, tal como Dom Quixote é, entre outras coisas, uma sátira aos romances de cavalaria. O público infantil adora esta história repleta de aventuras, onde criaturas fantásticas desfilam sem constrangimento, e o humor escatológico atrai as crianças, fazendo rir com sutileza e pelo non-sense. O livro, publicado pela primeira vez em 1726, é também considerado um dos marcos da ficção científica.
Para o leitor adulto, o fascínio se dá pelo olhar implacável que o autor lança sobre os homens, suas instituições, seu apego irracional ao poder e ao dinheiro, e sua insistência em prolongar a vida, mesmo quando esta só lhes proporciona sofrimento.
Viagem espetacular
Esta edição, organizada pelo professor Robert DeMaria Jr., responsável pelo texto de introdução e pelas notas, conta com imagens preciosas, como reproduções da folha de rosto e do frontispício da primeira edição da obra-prima de Jonathan Swift, além de mapas das diferentes terras citadas no romance, imprescindíveis para transformar a leitura numa espetacular viagem.
Jonathan Swift nasceu em Dublin, Irlanda, em 1667. Estudou no Trinity College, na capital irlandesa, e transferiu-se para a Inglaterra no final da década de 1680. Trabalhou como secretário, tornou-se escritor de prestígio e um dos maiores diplomatas de sua época.
Também foi clérigo da Igreja da Irlanda e deão da catedral de São Patrício. Morreu em 1745. Publicou, entre outras obras de sucesso, A Batalha dos Livros (1704), sátira em prosa; Argumento Contra a Abolição do Cristianismo (1708), panfleto; Modesta Proposição (1729), sátira política; e o poema Versos Sobre a Morte do Doutor Swift (1739).
Confira abaixo o humor de Jonathan Swift, no texto Resoluções Para Quando Envelhecer:
“Não casar com uma mulher jovem.
Não andar com os jovens, a menos que eles realmente queiram.
Não ser rabugento, nem mal-humorado, nem desconfiado.
Não menosprezar o jeito de ser, o humor, a moda, os homens e as guerras de hoje.
Não ser “coruja” com as crianças.
Não contar a mesma história mais de uma vez para a mesma pessoa.
Não ser pão-duro.
Não deixar de lado a decência e a limpeza para não ser desagradável.
Não ser muito severo com os jovens, mas deixar que cometam suas bobagens e fraquezas juvenis.
Não ser influenciado e nem dar ouvidos às pessoas velhacas e fofoqueiras.
Não dar conselhos para quem não os quer.
Pedir para alguns bons amigos me alertarem quando deixar de cumprir alguma destas resoluções, e entrar na linha novamente.
Não falar demais. Também não falar de mim mesmo.
Não me gabar da minha antiga beleza, força, ou sucesso com as mulheres.
Não dar atenção aos bajuladores, nem acreditar que posso ser amado por uma jovem; evitar quem quiser me aplicar o golpe do baú.
Não ser categórico nem enxerido.
Não acreditar que cumprirei todas estas regras, para não correr o risco de não cumprir nenhuma.”